letters.

O motorista era um homem de costas largas e cabelo grisalho preso em um rabo-de-cavalo, à maneira dos índios americanos. Como muitos taxistas, tinha vontade de conversar, e assim, depois que lhe disse meu destino, me deu a notícia do dia:

- Uma mulher de 90 anos recebeu uma carta de 1937. O que você acha da velocidade do serviço postal?
- É mesmo? - disse fingindo interesse.
- É o que parece. Foi escrita por seu noivo da frente de batalha do Ebro. Morreu no campo de batalha e por isso podemos dizer que é uma carta de além-túmulo.
- E o que disse a destinatária?
- Chorou muito. É normal, deve ter lhe trazido recordações.
- Suponho que sim.
- Não é a primeira vez que acontece algo assim - disse o taxista. - Há alguns anos encontraram um sacho cheio de cartas que haviam dormido ali quase uma eternidade. O diretor dos Correios teve de fazer declarações para conter o escândalo.
- E o que disse?
- Uma besteira: "Ninguém precisa se preocupar, não havia entre elas nenhuma carta de amor.""

[Trecho extraído do livro: Amor em minúscula - Francesc Miralles]