(..) Sem nossa força, aquilo, aquilo é só uma massa sem direcionamento. É isso. Eu tremo quase de não terminar, precisava, é isso, escrever, ser a mulher que eu sou, não a mulher pra casar, não a mulher para um homem, não a mulher do namorado, não a mulher pra que digam “olha, uma mulher”. Mas isso, a mulher que sei ser e que, acreditem, é tão mais mulher que cabeças tolas a chacoalhar brincos grandes e rodar saias e seus babados e rebolar periquitas que jamais derrapam de amor no dia seguinte. E quem não vê, quem não enxerga, quem não ama, quem não sabe. Isso tudo, sabe, isso tudo não é o que vai me impedir, de não saber exatamente nem quando nem como ser mulher, mas acabar sendo tanto, tanto, tanto, que nem parece. Que nem dá pra ver. É isso. É ser obcecada pela própria natureza de já ser. É ser cega pro que invade de tão óbvio. Duvidar do que não tem se não. É o tempo todo querer ser mulher, ter medo de não ser, não saber ser. Ser mulher é a hipocrisia ao contrário. É a desgraça do avesso. É a simplicidade depois do choque. É tentar até o fim o que já nascemos sendo. É se tornar o que já se sabia mas dói tanto e se vai aos poucos. Um aos poucos todo esfolado por conta das aceleradas que é ser mulher. Ser mulher é um atropelamento em câmera lenta, que a cada frame é visto com a maior velocidade que sem tem notícias no mundo. Porque não é a saia, não é a cor. Também não é a loucura, a dor, o brinco, o casamento, o filho, o buraco, a roupa, o choro, a fragilidade, o grito. Não é nada disso. É o que passa despercebido pelo cara da fila, pelo nosso espelho. É o intervalo de todas as tentativas de ser e, principalmente, de não ser. Quando eu serei uma mulher? Ser mulher é esperar ser mulher até o fim. Ser mulher é somente morrer tentando.
(Tati Bernardi, voltou a postar, graças a Deus!)
Nenhum comentário:
Postar um comentário